A tarde jamais fora tão branda.
A cidade permanecia distante e
abandonada
como uma teoria nunca demonstrada.
Por que voltar para longe da água
se tudo era enfim tudo o que eu
jamais precisara?
O juízo se me derramara
pelos olhos, pelos ouvidos, pelo nariz,
pela s raízes dos cabelos.
Não era de sentir o vento na face,
ele vinha de dentro, das minhas células
de súbito eólicas.
Não era o meu corpo que flutuava
na lírica piscina retida pelos recifes:
mas o meu pensamento em infinitivo
azular
menos denso do que a água salgada.
Era então o mistério da abdicante arte:
presenciar algo que pudesse ser
simultaneamente
uma leve aquarela de Turner,
um óleo sobre tela de Pancetti,
um conjunto escultórico de Bernini,
um quarteto de cordas opus 127,
um poema de William Blake,
e simplesmente não desejar representá-lo.
Era, enfim, estar diante do oceano
sem imaginar por um segundo sequer
que ele alcança outro continente.
Marcantonio