Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

sábado, 11 de fevereiro de 2012

COLEÇÃO PARTICULAR (10)

A TARDE (VISTA DA JANELA)

Seis goiabas
Apodrecem, desterradas,
Sobre telhado de amianto
Seco e sujo.

O sol folheia a ouro
Quinquilharias de metal
Espalhadas pelo quintal
Seco e sujo.

Um beija-flor
Inspeciona, em vão,
Ilhas de verde não-florido.

A sombra rendada de uma árvore
Sobre uma parede amarelo-senil
Devolve a esta a ilusão
De receber tinta fresca.

Uma calça jeans
Pendurada num frouxo varal,
Agita as pernas aflitas e vazias
Como se tivesse pressa de adentrar
Pela noite.

Hans Hartung, Composition T 1973, Óleo s/ tela, 1973

6 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Dizer o quê? Que te leio e se alargam os horizontes... Muito bom, Marquinho!

Beijos,

gagau disse...

E como se alargam Tania..a luz se faz muito legal,grande operario das letras,valeu..abraços.

Joelma B. disse...

e um olhar atento faz-se brisa e torna a tarde nuvem a invadir céus distantes...
Beijinho com admiração, Marco!

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Belo poema. Oxigenou as imagens..

Abraço

cirandeira disse...

Dessa janela tudo se canta:
o sol esmaecidamente tenta brilhar
sobre naturezas já anoitecidas pela
inexorabilidade do tempo!
(Saudades...)

beijo, Marcantonio

Wilson Torres Nanini disse...

Poema que troveja os rumores da rotina. Poesia que se colhe no melhor do ser no mundo adjacente.