O mar, oposto à cidade,
Tem seu trânsito fluido
E invisível
De atemporal indiferença:
Não são batimentos as ondas
Nem oscilações de pêndulo
Que exposto ao sal se oxide.
2
Não engarrafam o trânsito marinho
Os milhões de garrafas ridículas e abstratas
Nele lançadas com dúvidas humanas.
3
O barco humano
É abscesso leve
Na pele marinha
Que mal o sente.
4
O mar nauseado regurgita,
Não pneus, destroços navais,
Ou resíduos plásticos,
Mas os gases insípidos
(que o enfatuam)
Dos nossos credos fantásticos.
5
O mar não julga nem mais nem menos estúpidos
Os nomes dos deuses que nele injetamos
- Poseidon ou Netuno -
Como vazamentos de petroleiros.
6
O mar não tem bocas abertas
Nem cicatrizes de feridas
Cerzidas
Com a linha solta das nossas metas.
Nem garras tem o mar,
Com cem ou mil dedos,
Para reter os náufragos.
São nossos os ossículos
Que as ondas desovam
Na praia:
Falanges e artelhos.
Marcantonio |
4 comentários:
Muito massa o 5. Abraço, camarada.
"O barco humano
É abscesso leve
Na pele marinha
Que mal o sente."
fico com esta imagem, a imensidão impenetrável do mar.
a foto, o barco na foto, a sua capacidade de mesclar imagem e palavra, é o que me cativa na sua poesia,
parabéns pela permanente criação de quadros literários.
um beijo.
o mar engole e cospe a prepotência humana.
O barco humano
É abscesso leve
Na pele marinha
Que mal o sente.
Perfeito, Marquinho!
Abraços,
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