Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ABECEDÁRIO (z)



“Z”, DE ZODÌACO

Suspensos no ar
Há moldes invisíveis de mãos,
Feitos em não sei qual matéria permanente.

Vez ou outra,
Enganchamos os cabelos
Na constrição de alguma garra;
Ou algum indicador fixo
Reproduz, sem intenção,
O arco de nossas sobrancelhas;
Ou um polegar se aplica às nossas faces
Como se as quisesse virar para o outro lado.
Mãos abertas, ocas e alongadas
Podem fazer par acidental
Com uma de nossas mãos
Para batermos palmas sem som.

Talvez ao recuarmos recebamos
Tapinhas nas escápulas,
Ou nos ponhamos a espantar moscas inexistentes.

Ou cortemos o ar com a quintessência
De lâmina numa espada fictícia.

Tantas destras e sinistras,
Flutuantes móbiles,
Devem ser enigmas de gestos não concluídos,
E apenas poderemos interpretá-los
Se calçarmos como luvas de gesso
Essas mãos alienadas.


Anselm Kiefer, Merkaba, 2011



5 comentários:

Tania regina Contreiras disse...


Nossa, um devaneio fantástico esse! E ponto para minhas reflexões sobre as mãos...rs...que é essa uma viagem de agora. "Devem ser enigmas de gestos não concluídos"...Fantástico isso. Inspirou-me. Ah, saudades de te ler. Diversifico, busco ler poetas de vários estilos, mas me encontro muito em alguns. Aqui me encontro.

Beijos,

Fred Caju disse...

Massa. E já aguardo a próxima série. Abraços!

Bípede Falante disse...

Genial!
Os moldes invisíveis das mãos...
Que bela ideia.
beijosssss :)

Adriana Riess Karnal disse...

poxa, que sds de boa poesia...vir aqui é alento.

Domingos Barroso disse...

têm vida própria
essas mãos e tantas vezes
se expulsam do braço e fogem
delas mesmas pela casa atônitas
...


forte abraço, irmão.