Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

FACETAS (21)



SOBRE ESTRELAS

a)

Eu vos direi:
Não ouço estrelas,
A história fez
com que se calassem,
Ou o fez a ciência,
Ou a nossa impaciência.

Não ouço estrelas:
Elas se perderam,
Traço estatístico, 
No censo
Dos temas poéticos.

b)

Ela pode não estar mais lá
E ainda cintilar aqui
Onde posso não mais estar.

c)

A estrela que há pouco eu olhava
Num átimo foi ocultada
Por nuvem transitória,
Tal como um indivíduo desaparece
Sob a história.

Lógico: nuvem passada, 
Estrela reavistada,
Brilha desde antes da história
Pessoal de quem a olha.

d)

Estrela só,
Brilho na pupila
De um ciclope cego,
Que não vê meu ego.


Marcantonio


4 comentários:

Dalva M. Ferreira disse...

Onde você arranjou tanto talento? Parabéns, hoje, amanhã e depois do apocalipse.

marlene edir severino disse...

"Estrelas... só.
Quem sabe se naquela imensidão
elas sofrem o mal dissolvente,
passivo
mas dissolvente ainda: solidão."
disse Hilda Hilst num poema.

Vivo espiando o céu. E as estrelas.

E adorei teu poema!

Abraço, Marco!

Tania regina Contreiras disse...

"Brilha desde antes da história
Pessoal de quem a olha....". Sempre o máximo te ler, Marquinho.
Beijos,

Anônimo disse...

Li cantando. Tão bonito! Flui...