Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

sábado, 18 de janeiro de 2014

POEMAS EVISCERADOS (12)



RADIAÇÕES

Legistas doutos, às vezes,
Também deliramos,
Como quando buscamos
O oculto prisma que decompõe
A ausência de luz
Das furnas inóspitas do luto:

Como germinam essas cores feéricas,
Florilégios cromáticos,
Espectros irisados que recobrem
A tediosa monocromia da carne
E os tons rebaixados das vísceras exangues?

Serão como auroras boreais
Nas fronteiras entre o post-mortem
E os nossos olhos clínicos?


domingo, 12 de janeiro de 2014

POEMAS EVISCERADOS (11)



FUNÇÃO

Como se transmitia ânimo
Àquele mecanismo pesado?
Não mais importavam
Para o sujeito
Especulações, causa e efeito:
A noite já se fechara,
As chaves jogadas para fora
Do encéfalo frio,
Esse além onde o resto
Seguia inconcluso circo:

A morte era uma jaula aberta,
A vida, um leão rugindo no pátio
De ladrilhos
Enquanto o domador dormia
Com a acrobata na cama elástica.


sábado, 4 de janeiro de 2014

POEMAS EVISCERADOS (10)



PURGAÇÃO

Então,
Agulhas começaram a apontar
Na pele,
Agudas, mas frágeis,
Feitas de fino e translúcido vidro:

O organismo começara a expulsar
Todas as crenças no invisível.