Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ESPAÇO

A caneca tomba
e seu conteúdo se expande -
galáxia elipsoidal -
Via Cafeínica:
um espaço noturno
sobre a toalha branca.

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (37)

Dizem que hoje o ano finda,
que finda também a década primeira
deste século.
Dizem os fogos espocando lá fora.

Mas eu sempre fujo para o microcosmo
contido no minuto;
mal percebo a entrada das estações.
Não tenho memória para abarcar
um ano inteiro nem para dar-lhe um espírito
absoluto constrangido em um número.

Pouco se me dá que finde o ano
pois não findam com ele os meus enganos.
Tenho sim a tatuagem afetiva de alguns dias
brilhantes que duraram menos de 24 horas
ou que ultrapassaram essa baliza.
Os dias tristes já findaram antes do final do ano,
alguns, mal-assombrados, ainda arrastam
suas correntes pela casa. Mas outras horas
cuidarão de exorcizá-los com seu ofício de arquivistas.

Dizem que hoje o ano finda, a década
e algum espírito antigo.
Mas amanhã será apenas outro dia
do meu ilegível calendário pessoal. Amém.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ATONIA

A minha fé lírica
vai despencando
pelo poema,
degrau por degrau
até o térreo átono:
     este não-verso
     e último passo.


Alexander Rodchenko, cartaz para o filme
O Encouraçado Potemkin, de Eisenstein

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (36)

Um pássaro
canta,
todo instinto,
piccolo
ou
pífaro
natural,
solista
alheio
à própria beleza
e ao destino
orquestral.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

HAICAI

Britadeira muda.
Os pássaros retornaram:
Cantam com afã.

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (35)

O mistério parece um anti-azul.
Um céu claro é tão uniforme,
sem qualquer reflexo terreno.

O céu cinza é feito um arco
assentado sobre duas colunas
tão ignoradas,
quanto o são o nascimento e a morte
que sustentam o vão da vida.

E não há nenhum mistério
que não esteja fincado na terra.

domingo, 26 de dezembro de 2010

INDIVÍDUO

um vira-latas
um cão desabrigado
um cão desobrigado
de ser cão exemplar.

Velázquez, As meninas, OST,

DE PROFUNDIS CLAMAVI

O recuo do mar
deixa na areia
conchas mensageiras
que entregam aos ouvidos
cantos de sereias.

Seria a maré
seduzindo-me
ao azul marinho
do fundo esquecimento?

Marcantonio, Azul Marinho

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (34)

Seria digna de registro
a aniquiladora sensação
de que nada há a registrar?

Ora! Ao dizer que nada há a dizer
Já não estou dizendo algo crucial?
Nada ter a dizer e poder dizê-lo
não deve ser um fato banal;
estou vendo neste poder dizer
sobre o nada ter a dizer
um rito seminal.

(E esta rima que aqui ocorre é irrefletida e casual;
mas não vou removê-la porque não sei, no fundo,
se ela não seria essencial a esse discurso
sobre não ter nenhum discurso a fazer.)

Entende o que digo sobre nada ter a dizer,
acordar num dia sem referência temporal,
todo ele feito um espaço repleto de vazios,
e você com toda a sua matéria concentrada
no ponto densíssimo de não predizer nada
desse tudo que antecede
a suposta expansão de um universo verbal?

Como é possível que você me entenda
sem que esse universo já esteja expandido?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (33)

O dia de hoje
me parece um livro sem nome
reconhecido pela lombada mais surrada
de toda a estante.
Ou seria um cesto de velhas revistas
na sala de espera
de um consultório de dentista?

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

HAICAI

Retorno do mar.
Vento moroso na face,
sal nos supercílios.


APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (32)

Outro dia cinza-reticente.
Já a este, leve, me oponho:

faço contraponto-sonho
à cor neutra dominante, e
solfejo um mantra de sol
nascente,
sobre a mesma linha-lavra
aparente
onde repousa iridescente
a ave-clave da tua palavra.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

HAICAI

Eu parto a laranja:
Surge o sorriso amarelo
Com hálito doce.

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (31)

A manhã parece uma árvore cinza
pintada por Mondrian.
Não é estranho que lhe queira colher
os frutos cinzas
com polpas destemperadas:
meu apetite por azul já saturara
antes do amanhecer.

O sol faz tentativas infrutíferas,
soldado de infantaria.

Na estufa estendida das ruas
o suor me irriga a fronte
cansada de refletir imagens.
Fronte, linha de frente, fronde.

Já reparei que o verde
que se quer verde vida,
verde vento, verde mar,
mesmo num dia velado
permanece ainda verde
ainda que de tom rebaixado.

Isso explica ser a muda esperança
um verde estável.

Se o sol tomar a cidade
é provável que matize o meu humor
para um cinza amarelado,
tendendo para o verde.

Mondrian, Composicão com Árvores II, OST


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

BENÇÂO

Na areia da praia
pedras prostradas
oram
ao oriente
incompreensível.

As ondas
ungem
suas vértebras
petrificadas:

- Levanta e vem!

Praia de Tabatinga, Paraíba - Imagem retirada daqui
















Para ver belas imagens clique AQUI

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (30)

Passei a manhã contando
rostos exaustos e cansados.

Não é difícil entender
o que mantém em pé
uma velha casa:
ela não se move.
Espera que o tempo
a venha destruir
de cima para baixo.

Mas deve mesmo haver no corpo
uma alma que o engana,
que o lisonjeia e o convence
a não ter fundamento,
a mover sem parar
o seu desfazimento.

Uma música em assincronia
com o próprio instrumento.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

BILHETE PARA FRIEDRICH

Desculpe.
Não suporto obrigações.
É sem coerção
que sou o que me torno.

Munch, Retrato de Nietzsche

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (29)

Fecho os olhos
para que na câmara escura
ocorra o registro relâmpago
e sintético
das doze primeiras horas deste dia:
sim, porque já são 12:16.

Mas o que me vem é desapontamento
e cansaço de infinitos,
um pressentimento de perdas.

Minhas digitais são assinaturas
alienadas
na borda de algum contrato vencido.

Por isso penso em alguma forma
de permanência entranhada,
na tua face distante
onde tantos registros térmicos deixei:
um contrato natural porque as digitais
não se fixam à pele:
é no teu íntimo que me subscrevo.
Agora já são 12:30,
e por 15 minutos a minha memória
me afastou deste dia banal.

domingo, 19 de dezembro de 2010

INSUFICIENTE

Todo o léxico é pouco.

Não é bastante a oceânica
língua
para inundar o silêncio da
planície.

Pouco.

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (28)

Um menino me acordou
contando uma história
bem rente ao meu ouvido.

Umas bolhinhas luminosas
estalavam na sua boca
e eu sentia terno arrepio.

Quando eu voltava a fechar
os meus olhos sem fé,
ele me sacudia o ombro
com a inquieta mãozinha,
pássaro movimentando
um galho já ressequido.

Ele ria tão dourado de interjeições!
Eita! Eia! Eh! Psiu! Ôpa!
Eu conhecia aquela história
cheia de travessas lacunas
que o preguiçoso deixou inacabada
antes de correr para o domingo de sol!

Esse menino jamais cresceu comigo.

Tenho que levantar.

sábado, 18 de dezembro de 2010

MARINHA

É sempre transatlântica
A aquarela
Com que pinto a praia.

John Marin, Deer Isle Maine, aquarela (1928)

ÂNGULO

Umedeço com beijos
os oito vértices mornos
entre os teus dedos
em ansiosa evocação.

Man Ray (solarização de 1930)

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (27)

Que estranho que o chuveiro
se chame chuveiro.
Ele não é uma nuvem.

No banho, essa chuva
lava de mim resíduos incômodos:
o suor da noite
e restos de sono.

Olhando ilhas de espuma
correrem pelo chão,
pensei no quanto de nós
escapa pelos ralos.

Faixas de céu vistas pelo basculante
me fizeram lembrar que muitas nuvens
também descem pelos bueiros
ao subterrâneo.

Lembrei de Perséfone
e suas temporadas no Hades.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

ÚLTIMO PLANO

Já estou menos nítido,
horizonte acinzentado,
esfumado na atmosfera.

Efeito de aérea perspectiva:
um recuo do ser para o era.

Caspar David Friedrich, Amanhecer nas Montanhas (1823)

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (26)

Não há nada para apontar hoje.
Nem o sol, nem a nuvem asceta,
nem o pássaro que liga os pontos
da paisagem.

Esse vazio não está na janela,
é um episódio de abstinência
destes meus olhos tristes.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

TESTE

Procuro por algo primitivo,
Sem eixo de rodas,
Sem corrente elétrica.

Um caminho coberto
Por seixos antigos, partidos,
Que rosnem sob meus pés.

E um rio, recorte irregular,
Cantando
Entre dois planos com odor
Absoluto de terra.

Ali perdido, aguardarei saber
Se a civilização terá me seguido.

Caspar David Friedrich, Wanderer above the Sea of Fog






APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (25)

Tenho os olhos ardidos.
Os cabelos exalando maresia,
a pele enrugada
como como se eu fizera a travessia
da madrugada
mergulhado na palavra mar.

Não foi à deriva que dormi.
Talvez buscasse o extremo
das palavras praia virgem,
sem precisas coordenadas,
onde a palavra lua fosse tão irreal
e brilhante
que me incendiasse de desejo
de não mais despertar
para a manhã dos pontos cardeais.

Sabe-se, por este apontamento,
que despertei.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

DESENCONTRO

Se você disser que sou importante,
não poderei compreendê-lo a fundo:
há muito que vivo na vizinhança anônima
de mim mesmo,
                                        aonde os carteiros não vão.


ANTI-POEMA DESCARTÁVEL

O site/sítio estúpido
quer saber numa enquete mais estúpida
qual a celebridade grávida do ano (sic estúpido).

Deus! E eu que padeço de um enjôo estúpido
como se gestasse o mais saturado e estúpido
cansaço dessa achatada e vulgar estupidez!

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (24)

Sinto no ar
o odor ativo do presente
misturado ao perfume reativo do passado.

Mas o amanhã
também não deve ser de todo inodoro,
há algo que me irrita as narinas
e não parece ser de agora nem de antes:
será um futuro que não me cheira bem?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

TRANSE

Decalco o desenho
dos teus seios
como se os estive criando.

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (23)

É frequente que eu me sinta
um advogado dos objetos:
tento libertá-los de suas tirânicas funções.

Mas eles são mudos. Nada requerem.
Não me passaram qualquer procuração.
Talvez eu não os defenda por altruísmo,
e haja um egoísmo nessa minha compaixão.

Serei um justiceiro arbitrário, por presunção?
Será que imponho a minha própria liberdade
submetendo todos objetos ao meu olhar,
numa forma diversa de utilitária opressão?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

HORAS

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (22)

Quanto mais ando pela cidade
mais a divido em partes,
e menos a compreendo.

Aquela que inteira em minha cabeça cabe,
é cidadela;
é fração,
bairro,
rua;
é um número sobre uma porta.

domingo, 12 de dezembro de 2010

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (21)

Hoje acordei segmentado
pela saudade,
enumerando partes do que já fui.

Nem todos os domingos
tinham a mesma essência;
nem todos eram ilhas desertas.

Parecem menos nítidos
conforme recuo
às primeiras páginas do livro
que não era o mesmo que leio agora.

Domingos sem fronteiras,
reunidos num conjunto
de todos os dias úteis
para viver de brincadeiras.

CIDADE GRANDE

Onde na fumaça
me afogo.

Foto retirada daqui

sábado, 11 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

HAICAI

CONVERSÃO


Em frente, um haicai:
Todo o verde antes percebido
Preso num bonsai


Imagem retirada DAQUI
.

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (19)

Manhã, manhã, manhã!
Anjo dourado que anuncia
aos ouvidos do tempo virgem
a vinda dos gametas
de uma só fecundação,
para iminente gestação,
e imanente parto:
porque será sempre hoje
que pode não vir a-manhã.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

FERMENTO

Só o pão
não basta:
trigo, água
e sal.

Há outro sabor
fermentando
na massa
da palavra,
pão que passa
de mão em mão:

companhia,
pagã
comunhão,

de par com o
sangue,
porém, sem
transubstanciação.

Pieter Brueghel, Banquete Nupcial, óleo s/ madeira (1569)

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (18)

Hoje, os meus ventos
literais
não inclinam a palmeira
para a metáfora.

Vejo um dia imóvel.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

SALINO

Como uma onda que retorna,
deixo nas tuas costas
um rastro de suor.

Quando secar
terás no teu
o sal do meu corpo.

Egon Schiele, Nu, aquarela e grafite s/ papel

SEM RETORNO

Há uma palavra
que não tem para onde retornar,
porque não foi pródiga,
porque não saiu de casa.

Dürer, O Filho Pródigo, gravura em cobre

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (17)

Ao abrir a janela,
é sempre como ilusão
que manipulo a palavra 'mundo'.

Oh! A palavra está sempre
na escala humana: 1/1.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

OFICIOSO

É tarde para tecer
um discurso oficial:
eu seria sempre
um pária-conscrito,
aquele, o verdadeiro,
o que teme as cartas celestes,
a grandeza arbitrária
de toda hierarquia.

Vermeer de Delft, O Astrônomo

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (16)

Olha, a manhã me escapou.
Já é tarde.

Ao entrar em uma rua
curta e sem importância
(embora tenha nome histórico),
vejo uma bando de pombos negros
vasculhando a calçada.
Não quero espantá-los,
mas à minha discreta passagem,
debandam em arritmia:
aquele rumor, desnorteio
que me multiplica o olhar
para acompanhar a todos
simultaneamente.

Uma analogia precisa
para a forma como percebo o mundo:
por debandadas da realidade.

Ao dobrar a esquina,
olho por sobre o ombro:
reagrupados,
tornam a policiar a calçada.

A plana calçada da tarde.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

INDÍCIOS

No denso céu dos teus olhos
ainda não pude distinguir
se as nuvens estão passando
ou se conseguiste ancorá-las.

Mas nas pálpebras inferiores
há duas pistas úmidas
impróprias para decolagem.

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (15)

Acordei sem fôlego.

Três ou quatro palavras
me roubavam o ar
como se tivessem tórax.

As demais boiavam
como lascas de cortiça
na lagoa escura
chamada melancolia.

Ao menos não cheirarão
             mal.

domingo, 5 de dezembro de 2010

ILUSÃO

Dizer, dizer, dizer,
e novamente dizer,
até que a oração
perca os sentidos,
tal como o mundo
visível
que se diz maya.

Escher, Ordem e Caos

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (14)

É do íntimo que extraio as resinas
com que elaboro o verniz do dia.

Hoje, brilhante, mas envelhecido:
oxidado,
                trincado,
                                craquelado,

como um óleo sobre tela
do final do século XIX.

sábado, 4 de dezembro de 2010

SÍMBOLO

Não tem desígnio nenhum
esse pássaro sem cor precisa
(corpo de penumbra)
que atravessa a noite.

E, no entanto, ele me causa
um estremecimento,
como se eu estivesse diante
da pirâmide de Quéops,
de um dólmen,
ou de algo mais remoto.

Pintura rupestre, gruta de Lascaux , França

CORRESPONDÊNCIA

Ardente
nos lábios,
um timbre:
teu beijo.

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (13)

Cada dia tem seu Atlas
que o sustenta nas costas
curvadas às obrigações.

Cansa demais o realismo.

Hoje, esforço hercúleo,
darei folga a esse atlas
por solidariedade a mim,
e ampararei este sábado
nas minhas fortes ilusões.

Atlas Farnese,
Museo Archeologico Nazionale,
Nápoles

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

INCONSCIENTE COLETIVO?

Ignoro o estoque total
das minhas ocultas facetas.
O que translado para cá
nem sei se trouxe de mim:
muita vez me sinto apenas
um provinciano estafeta.

RALO OU DENSO




CONFLUÊNCIA

Um poema de Fernando Campanella com design meu:

























O fundo é reprodução da obra  "Estrada e Atalhos" de Paul Klee

Mais de Fernando Campanella em PALAVREARES

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (12)

Tenho os ossos doloridos.
Os músculos pesados.
O olhar diluído.
Os nervos de prontidão.

O espelho da manhã
sempre me flagra tresnoitado.
A insônia é um esgarçar
das fronteiras,
um não saber da travessia:
há muito que mal-adormeço
para despertar no mesmo dia.

E sequer me dou conta
desse tanto por fazer
que me torna inadiável.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

CHORANDO

Dos olhos ocupados
pela paisagem ressequida
surgem córregos finitos.

Picasso, Mulher Chorando, óleo s/ tela, 1937

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (11)

Cheiro de café.

Manhã envelhecida
que acolhe compassiva
as vozes da véspera.

Sinto certa náusea
pelas recorrências.
Certa náusea.
Nau-sea ! Nau-mar...
Ah, sim, se a nau ainda oscila
mesmo aportada.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

GRAFEMAS ORGÂNICOS

Grafias
na pele do rosto:
marcas de nascença
&
marcas do oposto.

Retrato de Samuel Beckett por Louis Le Brocquy

PALAVRINHAS (7)

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (10)

A manhã parece
um conjunto escultórico.
O movimento é virtual
nas linhas rígidas
da cena que não respira:

Não corre sequer uma brisa
pelo mármore.