Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

domingo, 31 de outubro de 2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

NARCISO

Fora das fronteiras
Imóveis
Do teu ser apaixonado
Tudo são coisas bárbaras
E estrangeiras.

DÚVIDA

Pensar é dispensar os extremos?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ANISTIA

Ela leva as flores,
em seu vaso,
para passear
no jardim que as urdiu,
antes que sequem,
no exílio,
sem rever a terra natal.





















Pierre Bonnard, A Mesa e o Jardim, óleo s/ tela.

OPACIDADE

Quando digo:
- Eu não sei!
Foge dos meus lábios um silvo aspérrimo que se transforma num uivo alongado,
fugindo pelas frestas estreitíssimas da janela opaca que jamais pôde ser aberta,
que jamais será aberta!
Por que? Eu não sei!
Eu não sei.
Eu não sei.
Eu não sei.





















Mondrian, Composição com Vermelho

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

AO MESMO TEMPO

Já agora me dedico
A manter o desdém,
Mas, como se eu fora
Simultaneamente,
As uvas, a raposa,
E ainda o La Fontaine.

Ilustração de Chagall para a fábula de La Fontaine

HAICAI

Sorrir com a aurora,
os dentes ao sol ardente,
tendo a língua clara.




terça-feira, 26 de outubro de 2010

LER OS OLHOS DO LEITOR

Deixe aqui suas impressões oftálmicas.

REPTO

Tenho dúvidas
Se aqui, neste vazio
Comovido,
Já há um poema.

A simples menção
Da palavra ‘poema’
Já faz algo se agitar
Na cidadela:
São as outras palavras
Alvoroçadas;
Correm e se abrigam
Como se temessem
O dilúvio.
Dividem-se em grupos;
Formam assembléias;
Votam pela greve.
Algumas ficaram pelo chão
Se fingindo de mortas.
Mas ouço sua respiração
De covardes.

-Apareçam palavras poéticas!
Apareçam se têm entranhas,
Se tiverem coragem!
Apareçam! Covardes!

PALAVRINHAS (5)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

INDEPENDENTE

Obstinado,
o poema incubado
aflora,
na exigüidade
do teclado.
Assim como a vida
lá fora,
não perde oportunidade
de traduzir-se em flores,
mesmo
na saturação de cores
da pós-modernidade.



Klimt, Jardim com Girassóis, óleo s/ tela, 1906.

REBELDIA

Palavra que desatina:
dança             dança
          dança                      dança
                      sem música:
                                          só mímica

domingo, 24 de outubro de 2010

CONVERSÃO

Pelas janelas vorazes
entra a essência
de tanto sol!
tanta luz!
tanta cor!
Inunda o interior
e escapa pela porta
como interjeições!




















Franz Marc  -  Pássaros (1914)

NO MEIO DA RETINA

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

NECESSÁRIO

Vê,
é óbvio
ab ovo:
            se eu não precisasse dizer
            por que diria                    ?

PALAVRINHAS (4)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

MUTÁVEL E AINDA PESSOAL

Estilo?
A relação das nuvens com o céu,
                                           o céu da minha boca.

FETICHE PLURAL



Interferindo sobre a "Vênus com a maçã",
de Thorvaldsen

terça-feira, 19 de outubro de 2010

HAICAI

Soleira com música.
Três pássaros confabulam
o dia mais claro.



 Braque - Pássaro branco e pássaro negro  - Gouache s/cartão ( 1960)

PALAVRINHAS (3)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

EGO EXCÊNTRICO

Porque tenho uma certidão.
Porque tenho uma certa idade.
Não tenho uma imensidão
de vale.
Tenho validade.

Porque tenho um ego findo.
Porque tenho um ser fugindo
pelas horas.
Porque agora você vindo
já me encontrará
indo embora.

PALAVRINHA (2)

sábado, 16 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

TEMPO

Cronos,
titã terrível
que não sofre
de constipação
intestinal!

























Goya, Saturno devorando seus filhos.

NO CHÃO

Saltita o passarinho
sobre o cascalho.

Três pulinhos
e se inclina
em reverência...

Bico garimpeiro:
beija-terra.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A SOLIDÃO NATURAL (sujeito x objeto)

Não há como unir,
pelo interior,
paisagem e janela.




















Van Gogh, O Quarto de Van Gogh - Óleo s/ Tela (1889)

UMA IMAGEM EM BUSCA DA REPRESENTAÇÃO

O que isto poderia representar?


a) A idéia fixa;
b) O preconceito;
c) A imaginação;
d) A burrice;
e) Nenhuma das opções acima.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

QUEDAS

Sempre abro precipícios reais:
mesmo concentrado no caminho
faço algo resvalar por um deles.

Sobretudo as palavras que julgara
funcionais, guias amestradas,
voluntárias da minha guarda pretoriana,
precipitam-se, sem que eu perceba,
por fendas laterais alastrantes,
ali  por onde também caem as horas,
as horas úteis.

CHAMADO

Conclama o sol.
Aquiescemos mudos.















Matisse,  A Alegria de Viver

domingo, 10 de outubro de 2010

TRAVELLING

Na estrada
que seguia para o interior
os meus olhos recolhiam
o poema já feito.











Camile Pissarro, óleo s/ tela, 1871.

POTÁVEL

-Tenho sede!
Ela me ofereceu
a água da boca.

sábado, 9 de outubro de 2010

PRELÚDIO

Uma palavra devora a outra
Como a noite devora o sol.
Acaso haverá ao fim da madrugada
Uma aurora verbal?


POEMENTE

Lapsus linguae:
entre
d(entes)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

SINTONIA FINA

Esbatimento
lírico:
um semitom
faz do tropo
trôpego
um tropeço,
e da espera,
essa esfera.

RESPIRAR FUNDO

Ah, essa tentação de quebrar vidraças!
Impulso tolo que vem e passa.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

REORIENTAÇÂO

Para  Luiza Maciel Nogueira
( sobre seu comentário na postagem anterior: "Sem coordenadas".)


Sim.
Por que falar da grande nuvem atípica
que escurece o mar
e fecha os olhos sem pálpebras
dos peixes?

Se há azul
é porque acima vela o sol
que incendeia a consciência
viva e fixa
da minhas células
que não se sabem temporárias.

















Vista do Mar, de Luiza Maciel Nogueira.

Em Versos de Luz:    http://versosdeluz.blogspot.com/

SEM COORDENADAS

Não havia na barriga
do peixe
indícios das distâncias
que percorreu.

Mas os olhos dele
eram duas ilhas
de um mar morto.















 Alexander Adriaenssen,  Natureza morta com peixes

MUTISMO

Já me calei
Acerca das...
Acerca das...
Acerca das
Cercas atávicas da vida.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CALIGRAMA IMPROVÁVEL DE UM GESTO FEIO

                                                                       a
                                         a
         a
         q
         u
          i i i i i i i
          i i i i i
          i i i
          _____i_____
          Ó

ARQUIVO D'ALMA

  • ABRIR
  • COPIAR
  • RECORTAR
  • COLAR
  • IMPORTAR                         >
  • EXPORTAR                         >
  • EXCLUIR
  • COMPRIMIR
  • EDITAR
  • RENOMEAR                        >
  • FECHAR
  • SALVAR
  • SALVAR COMO?               ...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

ESCRITA SUICIDA

Há que se ter algum veneno
na língua.
Não para o expelir,
mas para engoli-lo.

DESTERRO VOLUNTÁRIO

Não há nenhuma poesia
no meu cotidiano,
portanto, solicito no exterior
o asilo poético.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

DOWNLOAD

Sonhos ou delírios?
Clique na sua própria cabeça
para baixá-los.























PAUL KLEE,  Mask of Fear (1932)

INORGÂNICO

Aqui
cuspo

             palavras.
   palavras

         palavras

dessa saliva
aglutinante,
a tinta transparente
que
atinge a não-cor
final.

Pigmento impermanente
seca
sem odor orgânico.























Antoni Tápies

domingo, 3 de outubro de 2010

ACIDENTE DE TRAVESSIA

(ponto A) minha p                       (ponto B)
                           o
                            n

                              t

                               e

                                  

                                   a

                                     b
                                       i

                                         t
                                         u

                                          a

                                            l

MIRANTE

        A
poesia
me
espera
à beira
         das
             falésias
                       que
                           se
                            dissolvem
                                           l e n t a m e n t e  j u n t o  a o   m a r

sábado, 2 de outubro de 2010

NÃO-MANIFESTO

Não quero fazer arte do meu tempo.
A minha arte é contratempo.

SEM REMESSAS

Eu não posso decolar.

Eu não posso me descolar
deste chão, deste charco,
deste tabuleiro de xadrez.

Não faço remetimentos de mim
mesmo
porque
não encontro destinatários.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MEA CULPA

Gosto de poetas
que não explicam a poesia,
apenas a exemplificam.

Logo, isto não é um poema.












Magritte, "Isto não é um Cachimbo"

PARTITURA VERTICAL

SOL

SOL

SOL

SOL AUSENTE

SOL

SOL

SOL

SOL AUSENTE

SOL

SOL

SOL

SOL AUSENTE

:

[DA CAPO AL FINE]