Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

quinta-feira, 24 de abril de 2014

POEMAS EVISCERADOS (15)



ADÁGIO

Permaneceram os dedos,
Frios, sem as luvas de carne.
Mais delgados,
Menos anelares,
Anulados, sem expressão
De anelo.

Foram-se os anéis
Já mais largos,
Inúteis ornatos áureos
Em ossos lustrados,
Outrora dígitos,
Agora fragmentos
Para ábaco.


terça-feira, 8 de abril de 2014

POEMAS EVISCERADOS (14)



NÚMEROS SEM MEMÓRIA

Enfim encontra-se um conjunto
Numérico,
Não mais que despojos,
Desprendida pele seca
Das coisas concretas,
Pulmão que não traga mais ar
Ou pupilas áridas sem o sumo
Da luz.

Não mais dizer mil fios de cabelo,
Ou sete pássaros em bando,
Ou seis pães franceses,
Ou duas décadas de amor,
Ou décimo terceiro salário,
Ou três quilômetros para alcançar
A fronteira,
Ou meia dúzia de laranjas,
Nenhuma medida de carne e osso:
Dedos, braços, pés ou côvados...

Apenas os números sem carga,
Incorpóreos, não mais que sombras
Como as almas do Hades.