Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

COLEÇÃO PARTICULAR (9)

EDIÇÂO MANUSCRITA

Com cada carícia, deixo na tua pele
Uma narrativa.
Não sei como teu pergaminho
Comporta tanta grafia indelével.
Bom que eu possa reler
Esse poroso registro
De doces tramas textuais
Sem severa autocrítica.

Tal escrita não é da natureza fugidia
Do prefácio matinal,
Que por mais sol que exiba,
Logo se esbate no entrecho da tarde;
Ou das voláteis assinaturas aéreas
Que as asas firmam no ar;
Nem das traduções apócrifas
Que se rascunham velozes na água.

Ah, mas mistério é saber
Como o invisível se corporifica!
E quão estranho é que saias por aí,
Exibindo alguns episódios
Dessas minhas rapsódias epidérmicas ,
E ninguém os consiga ler.


Stanley Spencer, Double Nude Portrait: The Artist and his Wife, óleo, 1937.

11 comentários:

Ana Ribeiro disse...

Muito bom ler o metamórfico discurso desse corpo tão poético. Um abraço, poeta.

Fred Caju disse...

Demais isso, doces tramas textuais se entrelaçando com as tramas sexuais.

gagau disse...

Maravilha MARCANTONIO,é realmente um texto indelével..

Joelma B. disse...

os rastros de uma pele outra pele... se arrepios,pura poesia!

Beijinho com admiração, poeta-artista!

Rebeca dos Anjos disse...

"Ah, mas mistério é saber
Como o invisível se corporifica!"

Lindo!!

Quintal de Om disse...

um pergaminho indecifrável
ou braile lido
a testura da sua pele
dessa levedura
que fermenta os desejos
de loucuras sagradas
e profanas
mundanas de decifrar
mil~enios
em segredos seculares.

Meu carinho,
Sam

Cris de Souza disse...

babei!!!

tem que ter muito cacife pra tecer algo assim...

beijo suas mãos*

Lucas Holanda disse...

Marcantonio,
É inegável o seu talento!
É muita poesia a flor da pele numa pessoa só.

Vais disse...

Sabe, Marcantonio,
deixo um sensacional
para a composição da EDIÇÃO MANUSCRITA junto à pintura
me veio que o tesão não tem idade e não pertence só aos belos corpos jovens e sarados, que existe o desejo ardente mesmo que o tempo despenque e a gravidade puxe
sensacional

*** super em tempo, não é de hoje que quero agradecer de no horizonte o aosabor fazer parte da sua lista de blogues, grata pela consideração****

um abraço

Anônimo disse...

Marcantonio

perdoa-me a falta de palavras e a repetição de algo que já deixei noutros textos teus, mas este é de génio. Amei.

Escrito com suor sobre a pele!

Abraço
LauraAlberto

Flávia disse...

Gosto de ser lida assim, com dedos e boca e pele.

Beijos