“R”, DE RUMO
Talvez o tempo tenha absorvido
Todos os matizes mentais
Neste descampado de álgida
brancura,
Ou talvez eu esteja um cisco de
mármore
À deriva na esclerótica de um olho
imenso
Sem conseguir me aproximar da
íris.
Talvez eu tenha me feito o avesso
De alguma pálida palavra
Pousada no alvor da folha de
papel.
Talvez a anemia absoluta
Tenha acometido a minha imaginação
Num dos tantos sangramentos
verbais,
E eu esteja restos e despojos
mortais
Num subterrâneo descolorido.
Mas talvez as cores e as formas
Venham descendo em avalancha
E eu espere por elas no sopé
De uma montanha nevada.
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Anselm Kiefer, Ich halte alle Indien in meiner Hand, guache e lápis sobre foto, 1995. DAQUI |
2 comentários:
Muito bom. Estou passeando por aqui. Lendo o que não li.
Beijos,
cada série criada aqui é um livro pendurado em exposição de imagens verbais.
eu não deixo de levar comigo sempre alguma luz, algum contraste.
sua poesia é definitiva, não canso de dizer, depois que você diz algo, a coisa vira aquilo e pronto.
«Talvez eu tenha me feito o avesso
De alguma pálida palavra
Pousada no alvor da folha de papel.»
um beijo, poeta.
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