“X”, DE XEQUE
Param as rodas
E cada coisa giratória.
Repousa a palheta
Do aerofone e tudo o mais
Que seja vibrátil,
Tal qual se trava a língua
Ante o ácido verbal,
Coalho da oratória.
Emperra-se o mecanismo
Que ajusta os telescópicos
Girassóis
Quando ainda estão
Cabisbaixos para o sul.
A linha condutora
Do sol
Rompe-se
E o fixa,
Broche
Num colo azul.
As horas entrançam-se,
Lavor supra-aracnídeo
De teia pegajosa.
E dessedenta-se o sal
Do ar
Com as pétalas das rosas.
Nunca as árvores foram
Tão árvores:
Suas raízes encaminham
A seiva bruta do silêncio
Ao refino das copas,
Antes eloqüentes, ora surdas.
As vidraças estão jateadas
Pelos últimos beijos
Do vento gélido
Agora engessado,
E pássaros cristalizam-se
Sobre a galhada,
Frutos emplumados.
O rio cruza seus braços
Ante o estorvo
Do mar,
Faz-se lago opaco.
E, se tornar a correr,
Retrocederá:
Sua nascente será sorvo.
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Antoni Tapies, Journal, litografia, 1968. |
2 comentários:
Ótimo, Marcantonio, e o final é brilhante. Abração.
A imprevisibilidade de teus versos são geniais. Ricas e impensáveis imagens para um mero mortal. Afiadíssimo sempre.
Beijos,
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