Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ABECEDÁRIO (h)



“H”, DE HORA


Neste ponto, há uma reversão
Poética:
A borboleta, de súbito,
Aprende a tecer um casulo
E nele se interna.
O que quer que tenha visto
Na sua vida aérea, logo
Hiberna.

O casulo se rompe e liberta
Uma lagarta
Apta para amar coisas pequenas,
Terrenas,

Galgar o caminho desconhecido
Nos galhos das árvores
- Onde se prendem retalhos do céu,
Cenário plano
E raso –

E ali devora ao acaso as folhas
Com sabor de pergaminho,
Nelas desenhando rendas
Com fendas lidas ao tato
De todo raio solar.


E sequer relembra o dom do vôo
Quando a folha de que se alimenta
Aparenta ser balsa que plana
Sobre as ondas de ar.


Anselm Kiefer, Glaube, Hoffnung, Liebe, técnica mista, 1986.


6 comentários:

Luis Fernando disse...

Belo poema !!!

Fred Caju disse...

Do caralho. Fiquei até a fim de colocar um meu por aqui que vai mais ou menos por aí, mas com uma mariposa. Como submeti o poema a um edital não poderei colocar aqui, mas assim que sair o resultado mostro.

Abração, poeta.

Luiza Maciel Nogueira disse...

feliz 2013 Marcantonio que muita poesia e arte, paz, luz e felicidade te acompanhem neste ano!

Isa Lisboa disse...

Do viver ao contrário... Gostei desta reversão poética!

Isa Lisboa
http://instantaneospretobranco.blogspot.pt/

Dalva M. Ferreira disse...

E ali devora ao acaso as folhas
Com sabor de pergaminho,
Nelas desenhando rendas
Com fendas lidas ao tato
De todo raio solar.


E sequer relembra o dom do vôo
Quando a folha de que se alimenta
Aparenta ser balsa que plana
Sobre as ondas de ar.


Isso é poesia: o resto é resto.

Tania regina Contreiras disse...

Mravilhoso, arrebatante poema!

beijos,