Terei voltado à superfície
Se não vejo mais o limite
Que o céu impõe ao mar?
Por trás das retinas adernadas
Tudo é imensa neblina
Sobre o plano oceânico.
Só ouço a percussão remota
Das ondas que se chocam
Contra as muradas do crânio.
No nauseante balançar
De águas tão soturnas
Já deve estar dissolvida
Qualquer suposta coerência
Dos meus atos.
Ah, a amnésia se aprofunda,
Uma âncora descomedida,
Para puxar ao sem-fundo
A frágil e banal corrente
Dos fatos da minha vida...
![]() |
Julio González, Cabeça Reclinada, ferro, 1930 |