A morte não é um invasor.
Não é senão um hóspede muito educado,
Fleumático e erudito professor de latim
Que ocupa o cômodo mais modesto da casa.
Senta-se conosco à mesa,
E com olhos fixos no prato
Sorve a sopa rala, nossa única refeição,
Limpa com cuidado os lábios no guardanapo,
E da mesa retorna ao quarto
Com um sorriso frugal e de fingida paciência,
De quem se basta apenas com o antepasto.
Georges Rouault, Um Juiz, 1935 |
11 comentários:
E nunca teve pressa.
imagino Fernando Pessoa em companhia do ilustre conviva
...
forte abraço, irmão.
Concordo, a morte já está.
Um grande abraço.
Estamos todos hospedando essa figura. Poema inteiramente verdadeiro. Mas há quem diga que é preciso esquecer, o que não adianta absolutamente nada.
Beijo, Marco.
Eu a chamaria de "agregada", no feminino, pois que a morte é feminina, fina, lânguida e, sim, muito educada. Este vai para a minha coleção também...rs
Beijos,
Tempão que eu não comentava aqui, hem, mestre Marco! Hoje, acho que esse "fleumático e erudito professor de latim" me puxou pela orelha. O sacana já vem fazendo isso há dias.
Ontem, aliás, ele exagerou. Imagine você que à noite fui me encontrar com a Adriana Radioativa. Enfim, eu consiguia estar pessoalmente com uma das blogos-feras, depois de frustradas tentativas de me encontrar com você, Assis, Beto, Lelena e as "gêmeas".
Pois não é que o "hóspede muito educado" perdeu a linha de vez e me deu uma baita rasteira? O que era para ser uma longa noitada com nossa poeta maranhense (e a amiga que veio ao Rio com ela) foi brutalmente reduzido pela súbita necessidade de as duas retornarem hoje cedo a São Luís, em função de uma tragédia familiar com a amiga. Pior: fui encontrá-las na estação do Metro no Largo do Machado e acabamos, para ganhar tempo, bebendo por ali mesmo, numa adega que, como todas as casas boêmias da área, era point do Hélio Jesuíno. E lá ficamos, a menos de 100 metros da casa em que ele morava; eu com a sinistra sensação de que ele apareceria a qualquer instante e sem poder falar disso com a Adriana, para não incomodar a amiga que estava, é claro, bem jururu. Rapaz, fiquei tão tenso e ansioso que pouco aproveitei desse raro momento, falando pelos 30 cotovelos (logo eu que, como você bem sabe, tenho apenas 17!).
E não pude deixar de notar, numa mesa próxima à nossa, o brilho de "um sorriso frugal e de fingida paciência"...
Abração
excelente imagem da morte.
fiquei aqui lembrando da figura tão lindamente descrita por saramago no livro as intermitências da morte...
uma morte tão próxima e tão humana
beijo, Marco
Difícil comentar, enquanto essa Agregada, aqui, no quarto, olha-me, dissimuladamente.
Abç
Li esse texto no blog do Tuca,e tomei a liberdade de compartilhar no Face com o link do teu blog.
Consegui ver a dona Morte rondando a casa sorrateira e paciente...
Deu um arrepio de agonia,e ao mesmo tempo uma tranquila certeza.
Ela ronda a todos nós o tempo todo esperando a hora certa de se apresentar.
Desde que bati o olho, me espantei com o banquete. Esse poema não é um aperitivo, tá mais para principal prato. Ou seria pato?
É tão educado e silencioso que nem nos damos conta de que está sempre ali pertinho de nós.
bj
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