A tarde jamais fora tão branda.
A cidade permanecia distante e
abandonada
como uma teoria nunca demonstrada.
Por que voltar para longe da água
se tudo era enfim tudo o que eu
jamais precisara?
O juízo se me derramara
pelos olhos, pelos ouvidos, pelo nariz,
pela s raízes dos cabelos.
Não era de sentir o vento na face,
ele vinha de dentro, das minhas células
de súbito eólicas.
Não era o meu corpo que flutuava
na lírica piscina retida pelos recifes:
mas o meu pensamento em infinitivo
azular
menos denso do que a água salgada.
Era então o mistério da abdicante arte:
presenciar algo que pudesse ser
simultaneamente
uma leve aquarela de Turner,
um óleo sobre tela de Pancetti,
um conjunto escultórico de Bernini,
um quarteto de cordas opus 127,
um poema de William Blake,
e simplesmente não desejar representá-lo.
Era, enfim, estar diante do oceano
sem imaginar por um segundo sequer
que ele alcança outro continente.
Marcantonio
11 comentários:
Ler-te diariamente faz minha rotina mais rica.
Tão belo aqui!
Ah, Marcantonio, esses verdes e azuis, transbordantes, jorrando da tela em versos assim...
Duas exepcionais obras de arte, de mãos dadas!
Bravo, amigo, grande poeta, grande pintor!
Abraço da
Zélia
Belos! - poemas e imagens.
Um abraço
fds passado conheci uma menina que n distingue o verde do azul. mar e céu da mesma cor.
eu conseguiria, me perguntei?
pode-se sentir falta do que nunca se viu?
enfim...
beijos
Um poema de sangue tatuado...aqui de outuno, suave e forte!
Beijos,
"A tarde jamais fora tão branda.
A cidade permanecia distante e
abandonada
como uma teoria nunca demonstrada."
A prévia é tão eloquente que quase se intui o que virá, mas o que vem é ainda melhor do que se imagina, quem sabe uma teoria vivida.
Beijo, Marco.
Final perfeito.
Muito bom! Muito Bom! Muito Bom!
: o vento trouxe uma fina chuva que brilhava nas partículas sólidas de testemunhas da passagem do tempo pelas matérias . e os pardais-gêmeos ali bem debaixo da folha de bananeira olhando tudo, aguardando a entrada do sol. o daltônico permaneceu até depois do fim da feira, olhando o sol apagar-se no azul infinito.
cg
www.azulafora.blogspot.com
a minha tarde
foi um ardor nos olhos
um cisco atravessando a íris
desse azul
marinho?
marinheiro foi meu tempo
esquecido,
foi lajota
lantejoula colorida
dos abraços apartados
paridos, no mesmo
fim de tarde
e me arde... sem findar!
Que belo, belo, belíssimo.
Mereces aplausos.
"Um prelúdio bachiano
Um frevo pernambucano
Um choro do Pixinguinha"
Gilberto Gil - Um sonho
abraço
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