TESTE
Aquele poeta me disse
Que o poema é um jogo de encaixes
Como aqueles usados para aferir a capacidade cognitiva
Das crianças:
Há um espaço à espera do quadrado azul;
Há outro para o retângulo verde;
Ainda há outro para o círculo amarelo,
E outras formas com arestas mais numerosas.
E tudo deve ser completado no exato prazo
Entre o “Comece!” e o “Tempo Esgotado!”.
Não seriam poetas os retardatários
Que perdem tempo olhando pela janela,
Pois todas as peças estão sobre a mesa,
E não há uma vaga recortada para aquela nuvem
Ou para aquela árvore de galhos cômicos,
Ou para aquela senhora gorda com sua sombrinha
Num dia de sol.
Tampouco seriam poetas os apressados
Que com dedos nervosos deslizam as formas ao acaso,
Até que com raiva da própria impotência
As atiram longe, quem sabe por aquela mesma janela
Sob a qual passa a senhora gorda que, felizmente,
Usa uma sombrinha para protegê-la das palavras
Do poeta reprovado.
Fiquei decepcionado com essa poética
De rígidos parâmetros.
E nada mais tento.
Pensava que tudo fosse tão revolucionariamente
Natural
Como encaixar lágrimas na água corrente.
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Robert Doisneau, Les Écoliers de la rue Damesme, 1956 |