É bonito o gesto
De retirar um palito de fósforo à caixa,
E deslizando-o contra a suave lixa
Apoderar-se de uma chama breve
Que faz incidir uma aurora relâmpago
Na concha da mão que a sustenta.
Mas não seria de tal natureza -
Esse tirar do escuro disparo único de incandescência -
A beleza da palavra que inicia um poema.
Mas pensemos no gesto aparentemente
Falho
De deixar cair o conteúdo da caixa ao chão:
Eis aí um vislumbre do universo poético,
Uma galáxia derreada
Que não pode ser inteira incendiada
Pelos olhos.
Dessa oferta combustível caótica
Que estrela primeira, ainda apagada,
Será recolhida?
Alexander Rodchenko, O Poeta Vladimir Mayakovsky, 1924 |
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9 comentários:
Uau!!! Que belíssimo efeito imagético conseguiu construir. Bravo, poeta!!!
...e nunca mais minha caixa de fósforos será apenas uma caixa de fósforos...
beijo, Marco!
Marcantonio,
nessa síntese entre poesia e pensamento, teus poemas seguem a inventar mundos de sentido...
É sempre um prazer e uma aventura visitá-lo!
Abraços, bons caminhos...
Achei a ideia original. Gostei do poema, da maneira como você o desenvolveu.
bj
Sua poesia sempre me surpreende, caro Marcantonio. Muito bonito seu "Gestos".
Que bonito poema!!! O clarão de um poema num ponto de luz. Um abraço.
Jefferson.
Esse poema é lindo demais...
De vez em quando, alguns poemas seus me atingem como raios. Esse me atingiu totalmente. Um raio guardado numa pequena caixa de fósforo.
Adorei tudo, que idéias originais! Só mesmo um poeta dos grandes consegue filosofar sobre os objetos e seu aparente caos. Batuta!
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