Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

segunda-feira, 6 de junho de 2011

PROVAS DO ARTISTA (1)

CONJUNTO NUMÉRICO


Ó indivíduo! Ô indivíduo!
Ei! Você! Sim! Você...
Não, não é você!
Então, você aí. Não!
Sequer é você...
Espere! Vire-se! É, você...
Também não é você!

Não há você
nessa multidão.

Claudio Tozzi, Multidão, serigrafia, 1972. Imagem retirada DAQUI

















Site oficial do artista: http://www.art-bonobo.com/claudiotozzi/

10 comentários:

Lu disse...

Eu não entendo muito de serigrafias, mas gostei dessa porque lembrou-me o livro que estou lendo do Lima Barreto.

bacio

Luiza Maciel Nogueira disse...

putz, assim por vezes é fácil confundir as gentes rsrs. grande beijo!

dade amorim disse...

Verdade, Marco, Você não é fácil de encontrar na multidão. E a imagem não podia ser mais condizente com o sentido que li no poema.

Beijo pra você.

Mariana disse...

O comentário é um pouco longo, nem é bem comentário, mas uma citação:

A Lagarta e Alice ficaram olhando uma para a outra algum tempo em silêncio. Finalmente a Lagarta tirou o narguilé da boca e se dirigiu a ela numa voz lânguida, sonolenta:
“Quem é você?” perguntou a Lagarta.
Não era um começo de conversa muito animador. Alice respondeu, meio encabulada: “Eu... mal sei, Sir, neste exato momento... pelo menos sei quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que já passei por várias mudanças desde então.”
“Que quer dizer com isso?” esbravejou a Lagarta. “Explique-se!”
“Receio não poder me explicar”, respondeu Alice, “porque não sou eu mesma, entende?”
“Não entendo”, disse a Lagarta.
“Receio não poder ser mais clara”, Alice respondeu com muita polidez, “pois eu mesma não consigo entender, para começar; e ser de tantos tamanhos diferentes num dia é muito perturbador.”
“Não é”, disse a Lagarta.
“Bem, talvez ainda não tenha descoberto isso”, disse Alice; “mas quando tiver de virar crisálida... vai acontecer um dia, sabe... e mais tarde uma borboleta, diria que vai achar isso um pouco esquisito, não vai?”
“Nem um pouquinho”, disse a Lagarta.
“Bem, talvez seus sentimentos sejam diferentes”, concordou Alice; “tudo que sei que é para mim isso pareceria muito esquisito.”
“Você!” desdenhou a Lagarta. “Quem é você?”
O que as levou de novo para o início da conversa.

CARROL, Lewis. Aventuras de Alice no país das maravilhas & Através do espelho e o que Alice encontrou por lá. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Ilustrações originais de John Tenniel. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, p. 55-57.

A pergunta da Lagarta continua, para a maioria dos "vocês", sem resposta, e por isso há multidão, existe a multidão.

Abraço.

Abraço.

Zélia Guardiano disse...

Formidável, Marcantonio!
A mais pura verdade: não passamos de um número...
Grnde abraço, cheio de admiração.

Bípede Falante disse...

Bah, isso é que é ser ninguém!
Que forte e cruel e ácido. Marcantonio, você é um gênio ou o capeta ahahaha ou as duas coisas rs rs.
Beijo :)

Tania regina Contreiras disse...

Há sim, há VOCÊ...que olha, que capta, sente e transforma...Eu bringando com esse anonimato, mas, sim, teu poema capta essa massa sombria e sem rosto. Ei, ninguém, é com vc que falo!
Abraços,

Cris de Souza disse...

ô artista, provo e aprovo tuas provas. esta nova série é pra ninguém " botar " defeito.

ba-be-bi-bom diaaaaaaaa!!!

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Na multidão reside essa solidão ruim, despovoada diante de tanto e tão pouco..

Abraço

Anônimo disse...

adorei, o individuo perdido na multidão
beijo
LauraAlberto