Manhã total
E absoluta:
Nada há além
Dessa imersão
Enxuta no azul
Com verniz
Dourado,
Meio denso
Para pássaros
Em vôo
Distraído e
Retardado.
Uma criança
Agora brinca,
Olhos vivos,
Eliminando
Os arquivos
Dentro do meu
Crânio.
Nunca houve
O original
Nem haverá
O sucedâneo:
Jamais alguém
Dissera:
“Eis a questão!”
Jamais alguém
Dissera:
“Vim, vi e venci.”
Jamais alguém
Dissera:
“Assim na terra
Como no céu.”
E nunca existiu
Um dinossauro,
Uma civilização
Perdida
Ou qualquer
Titã.
Absoluta manhã
No livro da vida:
Parece que
Nenhuma outra
Página
Foi ou será lida.
Renina Katz, Cerf-Volant, litografia, 1992 |
Renina Katz: AQUI
7 comentários:
"Elementar meu caro Watson!", algo que Sherlock também nunca disse porque também nunca existiu.
E olha que foi um materialista histórico que escreveu um dia num certo manifesto: "tudo que é sólido se desmancha no ar"
(sobre o casamento com a poesia, comigo só rola um affair, sem maiores compromissos)
abração meu velho!
Belo e potente em si, o poema a mim também ressoa o Nietzsche da "Segunda Consideração Intempestiva":
"O homem também se admira de si mesmo por não poder aprender a esquecer..."
Poesiapensamento!
Abraços, bons caminhos...
A prova de que pode haver beleza não contaminada por arquivos de memória é essa visão poética de um artista quando realmente sente o momento. A analogia com uma criança foi perfeita: nada mais puro que mente aberta e captante de uma criança.
Abraços!
Será mesmo possível uma manhã ser apenas poesia sem que haja nada mais de humano lá fora? Como seria bom se assim o fosse. rs
bacio e boa semana
Muito bom, é essa criança que faz\ do poeta tão original sempre!
Bjos,
Magnífico o que pode ser interpretado diante de tão belos olhares
beijos
Às vezes é essa a sensação: o tempo limpo, transparente de clichês ou lugares-comuns - só o tempo e sua experiência tornada primeira.
Beijo.
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