Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

quinta-feira, 2 de junho de 2011

INTERIORES E VIDA SILENCIOSA (XLVI)

48 – natureza-morta com fruteira

A luz
que envolve
a fruta
não a devora.
Por isso
os olhos
nada sabem
de sabor.

O olhar
só degusta,
na memória,
supra-fruto
unitário.

Vejo doces
todas as laranjas
dessa fruteira,
até prova
em contrário.

Cézanne, Natureza-morta, óleo, 1877

5 comentários:

Zélia Guardiano disse...

Magníficos versos, Marcantonio!
Como sempre...
Ilustrados por Cézanne, então, que dizer?
Enorme abraço da
Zélia

Daniel Andrade disse...

"A luz
que envolve
a fruta
não a devora.
Por isso
os olhos
nada sabem
de sabor."

Esses estrofe é bem minha cara nesses últimos tempos.
Quero aquela mulher só para mim =]

Celso Mendes disse...

Como não dá pra provar tudo, que assim seja...

Belo poema. Muito interessante.

Abraço!

Tania regina Contreiras disse...

E eu, que continuo dialogando com teus poemas, às vezes aquiescendo, às vezes discordando e sem saber como devolver a ele, ao poema, a inquietude? Ah, acho que descubro que não "leio" poemas, "dialogo" com eles, às vezes um embate surdo...uma contestação:"...mas como que os olhos não sentem o sabor, se o tato enxerga...se o paladar escuta o som da polpa e do sumo???" Amei conversar com o poema! :-))

Lu disse...

Mas a memória auxilia no sabor, não acha? rs

bacio