49 – interior imperceptível
Um dia, a casa me lançara
em meio a tudo o que era,
além da porta, o mundo.
Um dia, voltara à casa
para me resguardar
e aguardar a mudança
vindoura,
de fora pra dentro,
do mundo.
Um dia, a casa cansada
da minha imutável
permanência,
ao mundo me devolvera
com impaciência.
Transmudando agora,
de dentro pra fora,
apenas espero
banal ocorrência:
a imperceptível
mudança do mundo
pela minha ausência.
José Bechara, A Casa, instalação (imagem retirada DAQUI) |
8 comentários:
A imagem da casa me devolvendo ao mundo é íntima e assusta...
Mas ainda há o que dizer a seu poema, e vamos aqui, eu e ele, conversando...
Abraços,
Elogiar seus poemas é chover no molhado. Então, um comentário off topic:
Por que essa incongruência entre o número romano e o arábico?
A relação da casa como objeto vivo, assim escrito no poema, a casa que construímos e também nos constrói
As casas podem ter mesmo desses caprichos. Ou talvez o mundo nos chame, e aí é irresistível.
Beijo, Marco.
A instalação do José Bechara e o poema estão rimando também visualmente. Eles se tocam, linda " composição sem música" mencionada no outro poema.
Carregamos o mundo dentro de nós,
mesmo quando dele somos expulsos!
beijos
Acho que o mundo muda todos os momentos, o que nem sempre muda somos nós. E mesmo se ausentando, acho que é possível encontrar todas as coisas nos seus devidos lugares. Embora eu confesse que adoraria estar enganada. rs
bacio
Neste momento, estou lendo um grande livro do Bachelard, que reflete justamente o onirismo da casa. Chama-se "Poética do Espaço" e é muito interessante e inteligente. Vale como indicação, caso não conheça.
Abraço
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