Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

sexta-feira, 3 de junho de 2011

INTERIORES E VIDA SILENCIOSA (XLVI)

49 – interior imperceptível

Um dia, a casa me lançara
em meio a tudo o que era,
além da porta, o mundo.

Um dia, voltara à casa
para me resguardar
e aguardar a mudança
vindoura,
de fora pra dentro,
do mundo.

Um dia, a casa cansada
da minha imutável
permanência,
ao mundo me devolvera
com impaciência.

Transmudando agora,
de dentro pra fora,
apenas espero 
banal ocorrência:
a imperceptível
mudança do mundo
pela minha ausência.

José Bechara, A Casa, instalação (imagem retirada DAQUI)

8 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

A imagem da casa me devolvendo ao mundo é íntima e assusta...
Mas ainda há o que dizer a seu poema, e vamos aqui, eu e ele, conversando...
Abraços,

Anônimo disse...

Elogiar seus poemas é chover no molhado. Então, um comentário off topic:
Por que essa incongruência entre o número romano e o arábico?

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

A relação da casa como objeto vivo, assim escrito no poema, a casa que construímos e também nos constrói

dade amorim disse...

As casas podem ter mesmo desses caprichos. Ou talvez o mundo nos chame, e aí é irresistível.

Beijo, Marco.

Iracema Macedo disse...

A instalação do José Bechara e o poema estão rimando também visualmente. Eles se tocam, linda " composição sem música" mencionada no outro poema.

cirandeira disse...

Carregamos o mundo dentro de nós,
mesmo quando dele somos expulsos!

beijos

Lu disse...

Acho que o mundo muda todos os momentos, o que nem sempre muda somos nós. E mesmo se ausentando, acho que é possível encontrar todas as coisas nos seus devidos lugares. Embora eu confesse que adoraria estar enganada. rs


bacio

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Neste momento, estou lendo um grande livro do Bachelard, que reflete justamente o onirismo da casa. Chama-se "Poética do Espaço" e é muito interessante e inteligente. Vale como indicação, caso não conheça.

Abraço