Há momentos de delírio, enfim,
Quando suponho ter na mão um espadim,
Leve como a navalha de Occam,
Com que eu possa estripar as esfinges:
- Proponde enigmas! Vinde!
Na outra mão, égide lustrosa
Para devolver os raios das estrelas
À origem nebulosa:
- Vai de retro, ilusão!
Monto um cavalo magérrimo,
Sem antolhos, esfalfado,
E que jamais foi ferrado,
Seus cascos se gastam na rocha bruta:
- Escuta: precisamos ter os pés no chão!
E um fiel escudeiro. Escudeiro? Escudeiro!
- Cadê o meu escudeiro, ó solidão?
Salvador Dali, Dom Quixote, litografia |
14 comentários:
Solidão é condição necessária
a quem vive à captura de silêncios?
Admiro tua arte!
Beijinho Quixotesco e ótima semana!
= )
É fácil se identificar com ele. Mas só na história de Cervantes existe um escudeiro.
Beijo, Marco.
A solidão quixotesca, delirante, é condição necessária para criação poética. É quando o poeta explora seus desvarios que as palavras emergem nos mais interessantes textos.
beleza de poema!
abraço.
Ando cada vez mais encantada e invejosa...
Bj.
A solidão é um aprendizado intransferível, infelizmente. Mesmo a experiência pessoal é falha neste quesito, pois experimentar a solidão aos 20 é diferente da dos 30, e outra é a solidão dos 40, que não quer, por ora, imaginar a vindoura. No entanto, ela também é escolha.
Seu poema atualiza imagens muito fortes da solidão, imagens, contudo, que se valem da parcimônia, como a combinar com a magreza do cavalo.
Um dos poemas mais belos dos que tenho lido aqui. Parabéns!
Abraço.
PS. Também ando de ônibus.
Belíssima composição!
"- Vai de retro, ilusão!" - gostei disso, até repeti em voz alta.
Como é raro encontrar um sancho pança dando sopa por aí...
Beijo da tua fiel leitora.
Tu propões enigmas e nós vamos!
Bem sabemos que não adianta tentarmos afastar a ilusão. Pelo menos no que ela tem de imaginário.
Afinal, a voz que a afasta é do escudeiro, mas quem passa à posteridade é o delirante cavaleiro.
Adelante, Poeta!
lindo demais poeta
beijos
o escudeiro sem escudo: solidão
lindo,lindo
A solidão e seu silêncio de muro: de doer os ossos!
[Ossos do ofício, poeta...]
Abraço!
Marlene
Li ontem essas linhas, mas apenas hoje eu me permiti realmente uma resposta porque a solidão não me incomoda, é algo que está em mim e praticamente em todo mundo, mas as pessoas olham pra isso com medo, horror, temor. Não sei. A solidão pra mim é uma resposta silenciosa pra tanta coisa. As vezes eu apenas quero a cada vazia, preenchida apenas com as minhas sensações. rs
bacio
E o que seria da poesia sem os enigmas?
Abraço
litografia: faz tempo que eu li isso, e o sopro ficou gravado
http://youtu.be/Iy2-PCiwDQM
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