Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

domingo, 29 de maio de 2011

INTERIORES E VIDA SILENCIOSA (XLII)

44 – natureza-morta com moldes

A palavra cresce,
ela própria objeto
multiforme
entre as coisas concretas.
Uma massa que fermenta
entre os espaços negativos,
como os que há
entre os dedos das mãos
ou entre as costelas,
vãos aflitivos.

A palavra sobe
como uma maré de cera
fervente,
extração de um molde
do vazio urgente
entre a pêra
e os dentes.

Ou a palavra desce,
rio de lava,
chuva de cinzas
que paralisa a sensação
instantânea
na casca cutânea da idéia
sem vida,
tal como os corpos
de vítimas
conservados por séculos
em Pompéia.


Natureza-morta com Frutas e Jarra, afresco encontrado em Pompéia

4 comentários:

Quintal de Om disse...

a palavra me adentra
como raíz em rocha
como em solo firme
as faces duras
às duras penas
a palavra me liberta
pelo olhar.

Lindo, Marco.
Meu carinho
Samara bassi

Celso Mendes disse...

A palavra é latente e lateja em interiores até se livrar, esvoaçante, explodir como lava ou simplesmente implodir.

Beleza de poema, meu caro!

abraço!

dade amorim disse...

Que poema incrível, Marco.
Põe esses teus poemas num livro, por favor.
Beijo, ótima semana e muitos poemas desses.

Lu disse...

Muitas vezes a palavra cessa tanto quanto a vida. E eu pergunto: o que sobra? Será o mesmo que sabemos de Pompéia?

bacio