Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

quarta-feira, 4 de maio de 2011

INTERIORES E VIDA SILENCIOSA (XXII)

24 – natureza-morta com pressentimento

As solas do par de sapatos
ainda sem uso,
já trazem ao tampo da mesa
alguma sujeira
das ínvias calçadas do mundo.


Miró, Natureza-morta com sapato velho, óleo, 1937

5 comentários:

Wilson Torres Nanini disse...

As rotas do mundo são sempre tortas: podemos escolhere entre brejos, abismos ou labirintos.

Bem disseste, pois os sapatos sem uso já sabe do terreno acidentado que os esperam à frente.

Abraços!

Sueli Maia (Mai) disse...

É sim... Sempre ficam restos.
Alguma coisa andante, errante sob os pés.

E este poema simula a marcha com a melodia, o ritmo.


Muito, muito bom, Marco.


um beijo

O Neto do Herculano disse...

As calçadas do mundo
que aguardem a dor
dos meus sapatos.

Eleonora Marino Duarte disse...

todo poeta encontra algo de si na relação passo - calçada.


ficou tão surpreendete quanto o quadro.

um beijo.

Bípede Falante disse...

Trazer, trazem. Mas eu me nego a herdar sujeira :)
beijos