Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

sábado, 14 de maio de 2011

INTERIORES E VIDA SILENCIOSA (XXX)

32 – natureza-morta com teias e poeira

As garrafas se tornaram opacas
como se contivessem nuvens;
e têm a beleza hierática
das figuras de um mosaico bizantino,
como, por exemplo, o da comitiva
do imperador Justiniano.

As aranhas, engenheiras estranhas,
lançaram-lhes entre os gargalos
fios inúteis pelos quais não correm teleféricos.

Mas, para o regalo da arte,
um breve raio de sol que transita entre eles
torna esse canto empoeirado um cenário feérico.

Giorgio Morandi, óleo sobre tela.

9 comentários:

João A. Quadrado disse...

[em silêncio tomo dessa palavra tecida, a única forma possível dum momento único... em silêncio!]

um imenso abraço, Marcantonio

LB

Zélia Guardiano disse...

Magnífica, Marcantonio, a maneira como você reverte o verso...
Lindo demais!
Abraço.

Fred Caju disse...

Nada me convence do contrário: você é um dos mais inteligentes que leio pelo Blogger.

Domingos Barroso disse...

Quem mágico contempla
torna-se também
a imagem
furtiva
...

forte abraço,
camarada.

dade amorim disse...

Marco, que beleza de poema!

Beijo.

Unknown disse...

Para a artesania das teias, a pose dos objetos.

Suas imagens sempre me levam a passeio, mesmo ou principalmente quando os teleféricos não correm sobre os fios e se me descarrilham imaginação adentro.

Anônimo disse...

Qualquer natureza-morta reencarna em suas palavras. Belíssimo!

Beijo.

Sônia Brandão disse...

Da aranha e sua teia o poeta tece o poema.

bjs

Dalva M. Ferreira disse...

Rimas sutis, aliteradas idéias... captei um clima de câmara. Bonito!