Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

terça-feira, 24 de maio de 2011

INTERIORES E VIDA SILENCIOSA (XXXVIII)

40 – natureza-morta com tique-taque

Amo o silêncio sem estrias
das coisas inanimadas.
São nobres, estáveis e destemidas.
Tantas parecem mais distantes
do que as estrelas.
Outras têm um sorriso amigo irremovível,
fossilizado.
Em algumas imagino pálpebras fechadas,
mas há aquelas que, paranóico,
suponho espias do meu existir:
sem elas não teria a sensação de estar aqui.

Amo o silêncio lógico
das coisas inanimadas,
e detesto o rumor das que se fingem inertes
e acocoradas ocultam as próprias pernas,
como o relógio e seu tambor persecutório
que ele não cessa de percutir.

Man Ray, Clock Wheels, 1925

9 comentários:

Unknown disse...

re-percussão labiríntica - o que vibra feito a silente víbora,


abraço

Tania regina Contreiras disse...

Ah, mal acabo de ler, e lembro de um velho bule cheio de segredos incontáveis, a me olhar com mão na cintura...Assim eu eu via o senhor bule de esmalte branco, já de há muito desaparecido.

E as coisas que se fingem inertes? O relógio? Muito bom, Marquinho!
Bjo

Luiza Maciel Nogueira disse...

adoro teus poemas e poesias

bjs

Dario B. disse...

Amo o silêncio lógico das coisas inanimadas. Eu também, poeta. Serei lógico quando cadáver. Um abraço.

Lu disse...

Tudo que posso fazer aqui é confessar o meu silêncio e as ilusões fortes que se aceleram diante dos olhos.

bacio

Eu disse...

Eu amo o silêncio...Nele ouço melhor o meu coração!
_________________________________

Você faz parte da alegria que eu estou sentindo... Por essa razão conto com a sua presença em meu blog, participando do sorteio que será realizado!
Sinta-se carinhosamente abraçado.

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

O silêncio está lá, sempre a nos observar intermitente..

Marcantonio, seu comentário foi respondido no blog. Demorou, porque eu estava tendo dificuldades de publicar alguns. Mas já foi resolvido.

Estou seguindo o seu blog. Parabéns pelo espaço.

Abraço

Daniel Andrade disse...

Nada como a calmaria.
Me lembrou alguns poemas do bom e velho Neruda no seu livro Coração amarelo

Anônimo disse...

Também já imaginei pálpebras nessas coisas, e até travei conversas.

Excelente, poeta!