Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

quarta-feira, 23 de março de 2011

QUINZE PAISAGENS COM SOL, QUINZE COM LUA (18)

Estava no meu quarto
pensando nas paredes que ocultam
outras paisagens. Cela! Pensei.
E eu seria um monge ilustrador
aprisionado na ausência de referências
externas.

Mas é noite, sei. O relógio o assegura.
E neste fato, há o sortilégio
de já se tornarem as paredes translúcidas
pois vejo a escuridão para além
desta lâmpada. Mas a escuridão oculta
outras paisagens. Nova parede! Pensei.

A minha cela está dentro de outra, sei.

No entanto, detrás da parede da noite
aguarda-me uma paisagem intacta de coisas
amarradas por raios solares, conectadas
por nervos de luz.
Ora, se ela já está lá, também é fixa:
outra parede! Outra cela!
Então não há como escapar
deste lado de dentro:
sou como um Jonas no ventre da paisagem,
pensei.











Marcantonio

5 comentários:

Adriana Alves disse...

O que há do outro lado? Isso sempre nos intriga.

Abraços,

Adriana

Quintal de Om disse...

Mas foi pela fresta daquele olhar
que me arrematou de vez
os sentidos
colorindo o branco
de uma brandura sem paredes
de uma brancura
uma brancura
brancura
cura
numa eetrna demora enturvando a voz em ecos sem nenhum paredaeiro
e atrelado à mim.

Abraços, flores e estrelas...

Tania regina Contreiras disse...

Ah, acho que não mesmo, Marquinho. Impossível escapar do lado de dentro...Haveremos sempre de cismar com um "la fora"...e esse sentimento ainda nos levará ao longe.
Beijos,

dade amorim disse...

Somos todos "Jonas no ventre da paisagem", Marco. E o poema é o máximo.

Beijo.

Eleonora Marino Duarte disse...

jonas e a baleia arquitetônico e filosófico...

:)

muito bom.