O sono momentâneo
das coisas com função:
a chave de fenda
para torturar a cabeça
frouxa dos parafusos
existenciais;
o serrote para seccionar
as veias secas
da madeira dogmática;
a montolia para irrigar
as articulações fatigadas
dos argumentos;
o formão para formalizar
o contrato das aspirações
contrafeitas;
o esquadro para enquadrar
a circunferência viciosa
da dúvida;
o nível para corrigir
o ângulo desafiador
da vertigem;
o prumo para verticalizar
as verdades relativas,
e o martelo ao pé de tudo
como um velho
cão de guarda
míope e sem olfato.
Todos dormem
descuidados.
Marcantonio, Melancolia 27, téc. mista |
10 comentários:
Li isso fincando alguma coisa aqui no peito. Incríveis sensações me passou.
Beijo.
Tenho uma chave de fenda dessas. Carrego na bolsa mesmo quando não quero. E na hora do banho, ela pula para meus cabelos, se emaranha com o shampoo e penetra nos fios. Oh, vida mecânica!!!
bjs
"Todos dormem descuidados" porque
estão tão solidamente instalados e
enlatados goela nossa abaixo...!
Sorte tua, poeta: tens OUTRAS FERRAMENTAS para ver toda a engrenagem com que vivemos(?)
um beijo
Gostei do teu trabalho, "melancolia", e da possibilidade de olhar essas ferramentas pelo lado de dentro.
Beijo,
um sono existencial, todos dormem de vez em quando - uns dormem o tempo todo
bjs
Me senti abrindo portas e janelas por dentro do peito.
Lindo isso, amigo.
Meu carinho
samara Bassi
Muito legal! Pode pôr o Pink Floyd para tocar: Welcome to Machine.
coisas de quem tem um parafuso a menos...
a-do-ro!!!
transformação, transformação, transformação da matéria, mudança de estados... Foi isto que me ficou martelando, martelando, martelando...
Simples e genial!
Poetas, homens da arte em geral.
Foram e sempre serão como uma ponte
Entre o imaginário antigo e o real presente.
Como bons feiticeiros trazem
Ás almas insatisfeitas como que uma porção mágica
Que causa um breve delírio voluptuoso
Um extasiar fugaz, que alivia os ais,
Dos inconformados com a realidade contemporânea.
Todavia seu ungüento não dura mais que alguns instantes
Seu efeito curador se converte em um maior pesar
Maior que a dor atroz do passado.
Portanto, dou um conselho aos amantes das belas artes.
Não dêem ouvidos aos artistas do presente
Sejam vocês mesmos uma ponte e o viajante
Para ir ao mundo da pura arte...
Vão ao encontro do elixir da eterna melancolia
Na fonte, na sua origem, onde jorra com perfeição,
Tanto o bem, quanto o mal dos seus sublimes criadores.
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