Há ilhas em mim
Que não estão no mapa dos cinco sentidos:
Olhos, nariz, boca e ouvidos
Não reconhecem tal arquipélago
Nem dele sabem os radares da minha pele
Continente.
Lá vivem degredados
Mitos ilhéus sem face
E cegos como Tirésias
Porque vivem sob um céu anterior aos astros
No extremo arcaico do meu império
Onde esse sol dos trópicos nunca nasce.
Picasso, Minotauro Morrendo, água-forte da série Suíte Vollard |
5 comentários:
Muito legal, acho interessante essa mescla poesia e história.
Poesia bem feita.
Grande abraço e sucesso!
Ai, essas ilhas...
Beijo, Marco.
Marcantonio
Quem não traz em si ilhas escuras?
Belíssima maneira de descrever nossos demônios.
bjs
Rossana
Vou aqui, na ilha. Ilha deserta? Especialmente a segunda estrofe do seu poema condensa muita coisa, que não é possível esgotar num comentário breve:
Lá vivem degredados
Mitos ilhéus sem face
E cegos como Tirésias
Porque vivem sob um céu anterior aos astros
No extremo arcaico do meu império
Onde esse sol dos trópicos nunca nasce.
Onde este "lá"? Guimarães Rosa, em Tutaméia, tem um conto lindíssimo intitulado "Lá, nas campinas". E uma das canções que mais me fascinam do Dylan é "I'm Not There". Há um lá aquém do eu, anterior, inabitável. O nó cego de uma existência?
Pois bem: tenho que a condição para que a linguagem se aproxime dessas ilhas é poder desertar, experimentar-se deserto, abandonar sentidos dados, cristalizados, banalizados. E com isso principio o diálogo com o comentário que você fez lá no blog, porque enquanto eu escrevia aquelas palavras eu tinha certeza da condição do desertor, e ia e voltava ao dicionário, descobrindo uma necessidade da linguagem de dizer daquelas regiões onde o eu vai ficando rarefeito.
Por enquanto é o que o avançado da hora me deixa dizer. Matéria que pede meditação.
Abraço.
E há também tanta terra em volta da minha água que eu já não sei mais o que é ser ilha.
beijosss
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