Um dia, algo cairá das minhas mãos
E não saberei por quê.
Um dia, estarei diante daquela porta
Como se fora o filho pródigo,
E ao adentrá-la estarei saindo.
Um dia, nascerá do meu coração uma árvore.
E não será uma secóia.
Um dia, farei uma escada com meus livros
E o último degrau será a borda dum abismo.
Um dia, irei ao cemitério como quem vai
A um batizado,
E compreenderei tudo o que amei
Me acreditando odiado.
Um dia, o vento dirá com dicção clara
A frase apócrifa que numa noite medonha
Me sussurrara.
Um dia, saberei que poderia ter tido a vida
De qualquer outro,
Fosse o pássaro, o peixe, o cordeiro ou o lobo.
Um dia mirarei as estrelas da Via Láctea,
E me será indiferente se o que vir for
Muito ou pouco.
Rembrandt, A Volta do Filho Pródigo, água-forte. |
5 comentários:
Bravíssimo Marco, muito ou pouco? as imensidões moram nessas tuas poesias, em ti
beijos
Lindo poema!
e quando as mãos se fundirem à terra, não haverá linhas, mas lembranças. num dia longe...
Gosto de ler um poema bem organizado assim, com as palavras equilibradas.
bj
Certos poemas deveriam ser lidos de joelhos, com as mãos postas. Como esse, por exemplo.
Grande abraço, Marco.
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