Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

FORA DE ALCANCE

Eu só quero falar
do que não alcanço:
o ar perdido dos pulmões;
aquela auréola de luz
que envolve o inseto
zunindo ao sol;
segundo por segundo
tudo que sucede
depois que as mãos
largam o trapézio-pêndulo,
o trapézio sob a lona do circo,
não a forma geométrica
- deserto que nada diz
de mim para mim mesmo.

















 Marc Chagall, O Circo

5 comentários:

cirandeira disse...

Mas ao falar o fazes com maestria e
beleza!!!

Bjs

Unknown disse...

segundo um amigo meu, "o ócio do trapézio traz um brilho dúbio"



abraço

Anônimo disse...

É este poema que guardo hoje comigo, não só por ser uma das coisas mais bonitas que já li aqui, mas porque o poeta sabe como é viver a captar com as palavras aquilo que escorrega por entre os dedos.

Grande beijo, artista-mor!

Cris de Souza disse...

da sua cartola, mago, só sai o esmerado. aplaudo de camarote seu espetáculo.

a imagem é um número à parte, fechando com chave de ouro essa arte.

beijo, queridíssimo!

(o que está fora do alcance será o bastante?)

Sueli Maia (Mai) disse...

Então, "pra não dizer que não falamos das flores" - falemos desta falta que nos deixa a arfar, falemos de nossa incompletude e do instante entre o salto e o vazio.

Belo, Belíssimo!

grande abraço