Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (30)

Passei a manhã contando
rostos exaustos e cansados.

Não é difícil entender
o que mantém em pé
uma velha casa:
ela não se move.
Espera que o tempo
a venha destruir
de cima para baixo.

Mas deve mesmo haver no corpo
uma alma que o engana,
que o lisonjeia e o convence
a não ter fundamento,
a mover sem parar
o seu desfazimento.

Uma música em assincronia
com o próprio instrumento.

4 comentários:

Dario B. disse...

Não nos destruimos de cima para baixo tambem, poeta? Um abraço.

Eleonora Marino Duarte disse...

é uma possibilidade bem reconfortante...

bonita consideração sobre a passagem das estações pessoais.

abraços.

Anônimo disse...

Marcantonio, suas metáforas hipnotizam corpo e alma, mas ninguém é enganado com esse seu jogo, só se cresce aqui. Sua poesia é muito especial, meu amigo.

Beijo.

José Carlos Brandão disse...

Este poema - como deveria todo poema - não é um convite à destruição, mas à construção. A poesia é a construção do ser - diria Heidegger.
Abraços.