Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

domingo, 26 de dezembro de 2010

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (34)

Seria digna de registro
a aniquiladora sensação
de que nada há a registrar?

Ora! Ao dizer que nada há a dizer
Já não estou dizendo algo crucial?
Nada ter a dizer e poder dizê-lo
não deve ser um fato banal;
estou vendo neste poder dizer
sobre o nada ter a dizer
um rito seminal.

(E esta rima que aqui ocorre é irrefletida e casual;
mas não vou removê-la porque não sei, no fundo,
se ela não seria essencial a esse discurso
sobre não ter nenhum discurso a fazer.)

Entende o que digo sobre nada ter a dizer,
acordar num dia sem referência temporal,
todo ele feito um espaço repleto de vazios,
e você com toda a sua matéria concentrada
no ponto densíssimo de não predizer nada
desse tudo que antecede
a suposta expansão de um universo verbal?

Como é possível que você me entenda
sem que esse universo já esteja expandido?

5 comentários:

Unknown disse...

uma teoria geral sobre o nada, metafisicamente falando



abraço

Anônimo disse...

A gente sente, meu amigo, quem fala, poetiza e teoriza sobre nós, seres metaf(ísicos)óricos.

Beijo!

Zélia Guardiano disse...

Reflexão filosófica muito, muito instigante!
Estou aqui, pronta para uma releitura , e outra, e outra mais...
Versos maravilhosos, Marcantonio!
Abraço apertado

Anônimo disse...

Eu que não tinha nada para ler, ao ler você dizer que não tem nada a dizer, fiquei com vontade de escrever.

Tania regina Contreiras disse...

Ah, nossa, como o entendo, Marcatonio!E acho realmente fantástico todos os anseios sem nome que com você ganha contornos poéticos.
Beijos,