Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (50)

Para ter a sensação da própria permanência
É preciso olhar o dia por um microscópio.
Você parecerá, então, um titã com amplo domínio
Sobre as horas minúsculas. Uma espécie de Gulliver.

Porém, não mire a olho nu o firmamento,
Não pense diante do mar
(ele jamais foi um acúmulo de gotas),
Não olhe nos olhos dos grandes panoramas,
O geográfico, o histórico.

Porque toda essa grandeza o recordará
Do frágil fio do seu olhar,
Do ofício sinistro das Parcas,
Da tesoura de Átropos.

E parecerá tão iminente não estar mais aqui.

Jacob Matham, As Parcas, gravura (1587)

5 comentários:

Cris de Souza disse...

ô zeus! que maldade...

Dalva M. Ferreira disse...

Triste, mas pura verdade.

Batom e poesias disse...

Por Júpiter, Marcantonio!
Triste é se dar conta da própria pequenez. Desafia a vontade de permanecer.

Esse é um assunto que a Mai adora.
Falando nela, você tem notícias? Parece que ela é da região serrana do Rio de Janeiro que foi alagada.
Eu e alguns amigos estamos preocupados com a falta de notícias.

Abços
Rossana

Unknown disse...

Tudo numa só palavra: perfeito.
Grande abraço.

Em tempo: estou usando, aos pouquinhos, algumas das suas pinturas para ilustrar os poemas do meu blog.

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

e quantas vezes nós tão menores não somos por completos homenzinhos nas mãos de simples bactérias, mas ha´esse outro olhar proposto no poema,