Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

domingo, 16 de janeiro de 2011

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (53)

Oh, cândido poeta,
segues espargindo pétalas
pelo caminho,
caracol apressado
que leva às costas
a casa sempre ensolarada
com jardim anexo;

tua voz é uma flauta,
tua língua um arco-íris.

Às vezes, me adoecem as tuas cores,
e o teu sorriso-soro-glicosado.

É preciso ter alguma revolta consciente,
alguma mordacidade
que faça rosnar ao menos um verso
entre os caninos à mostra;
ou mesmo furar um dedo
na recordação do pacto com a morte.
Talvez simular que os cortes do teu pulso
ainda não estão cicatrizados,
para a que a dor que deveras sentes
pareça ainda maior.

Porque só assim o teu poema presente
terá alguns ramos balançando
ao vento do futuro, do teu, do nosso.





Obs. Após clicar em Publicar Postagem, apareceu no painel do Blogger um anúncio Google: Chega de Lágrimas (com marca registrada). Só rindo mesmo.

3 comentários:

Carlos de Thalisson T. Vasconcelos disse...

Fortes versos. Fortes versos. Fortes versos.

Tania regina Contreiras disse...

Perturbador, inquietante. Sempre sempre. E é bom, lógico.
beijos

Cris de Souza disse...

oh grande poeta, tem noção da inquietação que sua palavra gera?