Olha, a manhã me escapou.
Já é tarde.
Ao entrar em uma rua
curta e sem importância
(embora tenha nome histórico),
vejo uma bando de pombos negros
vasculhando a calçada.
Não quero espantá-los,
mas à minha discreta passagem,
debandam em arritmia:
aquele rumor, desnorteio
que me multiplica o olhar
para acompanhar a todos
simultaneamente.
Uma analogia precisa
para a forma como percebo o mundo:
por debandadas da realidade.
Ao dobrar a esquina,
olho por sobre o ombro:
reagrupados,
tornam a policiar a calçada.
A plana calçada da tarde.
5 comentários:
O dia passa
no piscar
de nuvens
=)
...se eu juntar ao "marcador" - paisagem movediça - posso afirmar: Perfeito!
abraços.
Mas o teu olhar de poeta, fora do
"bando", pode perceber como se dão
as revoadas: quando estamos sozinhos?
beijo
Delícia isto!
Os pombos são teimosos e resmungões...debandam e voltam... e nesse poema, mais que pombos, homens voos e aterrisagem, está a multipolaridade mundial.
Genial!
Você é.
beijos
olha, já é noite e os pombos arrulham de pé.
(será porquê os alimentamos diariariamente?)
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