Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

APONTAMENTO NA BORDA DO DIA (16)

Olha, a manhã me escapou.
Já é tarde.

Ao entrar em uma rua
curta e sem importância
(embora tenha nome histórico),
vejo uma bando de pombos negros
vasculhando a calçada.
Não quero espantá-los,
mas à minha discreta passagem,
debandam em arritmia:
aquele rumor, desnorteio
que me multiplica o olhar
para acompanhar a todos
simultaneamente.

Uma analogia precisa
para a forma como percebo o mundo:
por debandadas da realidade.

Ao dobrar a esquina,
olho por sobre o ombro:
reagrupados,
tornam a policiar a calçada.

A plana calçada da tarde.

5 comentários:

Anônimo disse...

O dia passa
no piscar
de nuvens

=)

Eleonora Marino Duarte disse...

...se eu juntar ao "marcador" - paisagem movediça - posso afirmar: Perfeito!


abraços.

cirandeira disse...

Mas o teu olhar de poeta, fora do
"bando", pode perceber como se dão
as revoadas: quando estamos sozinhos?

beijo

Sueli Maia (Mai) disse...

Delícia isto!
Os pombos são teimosos e resmungões...debandam e voltam... e nesse poema, mais que pombos, homens voos e aterrisagem, está a multipolaridade mundial.

Genial!
Você é.

beijos

Cris de Souza disse...

olha, já é noite e os pombos arrulham de pé.

(será porquê os alimentamos diariariamente?)