Dizem que hoje o ano finda,
que finda também a década primeira
deste século.
Dizem os fogos espocando lá fora.
Mas eu sempre fujo para o microcosmo
contido no minuto;
mal percebo a entrada das estações.
Não tenho memória para abarcar
um ano inteiro nem para dar-lhe um espírito
absoluto constrangido em um número.
Pouco se me dá que finde o ano
pois não findam com ele os meus enganos.
Tenho sim a tatuagem afetiva de alguns dias
brilhantes que duraram menos de 24 horas
ou que ultrapassaram essa baliza.
Os dias tristes já findaram antes do final do ano,
alguns, mal-assombrados, ainda arrastam
suas correntes pela casa. Mas outras horas
cuidarão de exorcizá-los com seu ofício de arquivistas.
Dizem que hoje o ano finda, a década
e algum espírito antigo.
Mas amanhã será apenas outro dia
do meu ilegível calendário pessoal. Amém.
9 comentários:
Impossível mesmo acompanhar o tempo oficial, Marcantonio. A não ser talvez para aqueles que não descobriram (ou não têm?) o tempo interior.
O meu é tão confuso, que às vezes estabelece séculos em poucas horas, do mesmo modo que apaga momentos e períodos, sempre mais dele do que meus, em fração de segundo.
É dele mesmo, o tempo, a concessão para que eu esteja aqui agora, fazendo o que tão pouco fiz neste ano agonizante: comentar no seu blog - que, num instante que perdurou ao longo de meses neste 2010, acendeu-se para nós (Tuca, Teopha, Elza e eu) como uma das luzes mais intensas que o tempo virtual nos concedeu.
Um Ano Novo bem novo mesmo, desde que o tempo não o queira velho mas muito melhor!
Beijos
ilógico e absurdo
contar o tempo
melhor fazer de conta
que o tempo não conta
E que possamos viver em paz, todos os dias, sem contá-los. :) Abraço forte, Nydia.
Vc disse tudo que eu queria dizer.
amém, meu bem!
primeiro de janeiro: dia da ressaca.
Mas amanhã será apenas outro dia
do meu ilegível calendário pessoal. Amém
Amém, pro meu também...
Beijos,
Também não tou nem aí que o meu ano novo, no tal ano passado, começou em julho, quando me libertei da minha burocracia e decretei como lei viver de um jeito menos burro e mais criativo!
beijossss
gostei muito, marco! principalmente por pensar parecido.
abraços!
Para você, Marcantonio, uns versinhos que fiz no século passado , no último dia de um ano qualquer:
Como sói acontecer
Todos os anos
Vão-se as ilusões
Sóis tão ciganos
Sobram desenganos
Só
Acho que combinam com seu lindo poema.
Abraço imenso, meu querido!
"Pouco se me dá que finde o ano
pois não findam com ele os meus enganos." Disse tudo!
Postar um comentário